22 maio, 2009



paisagem um ponto zero


Paisagem um ponto zero.
Começa assim: com uma partida. Mais ou menos como se o fim fosse o início. Ou vice-versa.
O jardim da casa perdura o mato crescido entre as flores da estação. A fachada ainda guarda partes da memória de um outro tempo.
Seqüência em preto e branco.
A câmera se aproxima do interior. Vazio. De possibilidades reais, de palavras que nem mais guardam eco.
Houve um certo verão de promessas e poesias e músicas e olhares ternos.
As taças ainda repousam sobre a mesa de centro.
Corte para imagens vagas. A memória é como um ciclo vago e impreciso de imagens e sensações que são editadas e sobrepostas conforme nosso humor varia.
Aimee Mann ainda canta com sua voz macia coisas sobre as quais só meninas podem cantar. Ela e sua guitarra.
Engraçado, ele sempre teve um certo fetiche por mulheres que tocam guitarra ou são imponentes com suas botas de cano alto ou usam batom carmim só pra provocar.
Já não há olhos pra se olhar e tentar desvendar o que vai na alma. A janela entreaberta garante uma nova visão de mundo. Embora seja domingo e as ruas adormeçam à espera de outra semana.
Houve um tempo em que famílias sentavam juntas à mesa no domingo e esse era um momento sagrado.
Outra seqüência relembra que coisas sagradas nunca foram seu forte.
Na verdade não se pode salvar algo em que nunca se esteve por completo.
Almoços em família, riffs de guitarra, leituras de Virgínia Wolf, vinhos chilenos, amigos possíveis e amores quase. Tudo mais ou menos pela metade.
Sua passagem é assim. Paisagem um ponto zero.
E ele segue na esperança de que a vida lhe possibilite um upgrade.



wallace puosso, maio de 2009
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PARA OUVIR JUNTO: Aimee Mann - Save me e/ou Aimee Mann - Deathly
PARA ASSISTIR: Magnólia (EUA, 1999)
ACOMPANHANDO: Casillero del Diablo Merlot (safra 2006)
OUÇA NO VOLUME MÁXIMO, AME COMO SE FOSSE A ÚLTIMA COISA.
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6 comentários:

  1. a vida possibilita coisas demais,e as paisagens passam de um ponto zero para uma sequencia incontavel de numeros, sem ponto algum.
    E a guitarra doce da Aimee continuará a ressoar de fundo como numa prece, sem crenças, que apenas conforta e embala, mas não altera em nada, só você pode alterar.


    Lindo texto wally!!!!!!!!!!

    Beijooo

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  2. Oi querido,td b? Andei tanto tempo sumida q nao sabia q vc tinha mudado de lugar. Muito melhor aqui e mais leve pra conexões leeentas como a minha...rsrs. Bjs e fique com Deus.

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  3. O vinho, já conheço, ótimo!
    abraços

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  4. Anônimo9:13 PM

    Você foi convidado a participar de uma brincadeira entre amigos blogueiros.
    As regras são:
    1 - Agarrar o livro mais próximo;
    2 - Abrir na pagina 161;
    3 - Procurar a 5ª. frase completa;
    4 - Colocar a frase no blog e convidar os amigos a fazerem o mesmo;
    5 - Repassar para algumas pessoas e avisá-las.
    Conto com a sua postagem.
    Valeu!

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  5. quatro anos e meio?!?!?!
    poxa, um dia ainda chego lá...
    obg pela visita lá, e voltarei mais vezes por aqui.

    abraçus

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  6. este texto me fez viajar pra dentro dele, curto muito este seu jeito de escrever como cinema.
    trechos que mais viajei:
    "A memória é como um ciclo vago e impreciso de imagens e sensações que são editadas e sobrepostas conforme nosso humor varia."

    "Já não há olhos pra se olhar e tentar desvendar o que vai na alma."

    "Na verdade não se pode salvar algo em que nunca se esteve por completo."

    *estou com Magnólia aqui em casa, ainda não assisti, o farei..

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