18 agosto, 2009




o sorriso do coringa


a primavera da nossa juventude refletia
(ou pelo menos deveria)
o frescor daquela cidade quase intocada
quando éramos só vagabundos
(no belo sentido da palavra)
querendo viver o melhor do mundo
não deixamos de ir além, ao contrário:
a cabeça fervia, o espírito saltava
tínhamos paixão e vigor e poesia

quantas e quantas vezes – hoje você fala
ficávamos espalhados pelo chão da sala
rindo feito loucos (de quase nada)
enquanto o mundo explodia à nossa volta?
ao ouvir aquela música dos anos 70
e desejar as meninas do colégio
saltando os dias como o relógio
do coelho louco de Alice
quando se é mais feliz do que a felicidade aparenta

e, se por acaso, um de nós partisse
era uma parte que sempre faltava
na maquinaria da amizade
o mundo dá voltas e gira ao contrário
contamos o fim de trás para frente
hoje você rebobina a rotina e quase nem sente
não foi o mundo que mudou, mas você

no último discurso – sempre irretocável
você prometeu uma nova ordem
mas nossa vida anda tão bagunçada
que às vezes é impossível enxergar um palmo
à frente daquela barricada
já não rimos mais – diria o Coringa ao seu assessor
enquanto despacha futuros fúteis no Salão Oval

e o que era pra ser eterna primavera
desabrochou como folhas espalhadas pelo chão
notícias de jornal, músicas pela metade
poemas sem final,
e o que sobrou da saudade
está preso aos porta-retratos, aos cartazes de teatro
e os panfletos colados em postes pela cidade



wallace puosso, agosto 2009

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2 comentários:

  1. ótimo texto amigo...show.

    abraços


    Hugo

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  2. "quantas e quantas vezes – hoje você fala
    ficávamos espalhados pelo chão da sala
    rindo feito loucos (de quase nada)
    enquanto o mundo explodia à nossa volta?"

    E é tão bom....sermos loucos. A loucura exclui qualquer vestígio de sofrimento da alma.

    Gostei muito.
    um beijo

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