09 setembro, 2009

Um outro vôo

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Queridos,


Algumas considerações sobre o tema sugerido pelo Reginaldo - "o vôo da serpentina".
Fiquei aqui, matutando, matutando sobre o tal sentido figurado da serpentina (confesso que não me agradava a idéia de escrever sobre carnaval...)
Recebi dois textos do boy regis, engatei umas músicas da memória (na verdade do portal Terra) e saiu minha metáfora da tal da serpentina.
Acho que vivemos um ôba ôba tão grande (olha a metáfora aí...) com tudo que nos cerca, que não prestamos mais atenção a quem está ao nosso lado, ao cidadão comum, desses que cruzam conosco pelas ruas...
E pensei nesse nosso poeta, com cara de gente comum, dessa gente vinda do nordeste e que vem pra ser mais um. Ele veio, fez a diferença, mas sumiu tão rápido quanto apareceu. Como se fosse quarta-feira de cinzas (olha a metáfora aí de novo...) direciono meus olhos para ele, que merecidamente deveria retornar aos corações de quem ama (ou já amou um dia).
Meu vôo da serpentina não tem nada de carnavalesco. É mais uma alegoria aos que se vão, no silencioso rumo das coisas não ditas, não sentidas, não divididas.
Não quero um vôo assim, dessa forma, em silêncio. É triste demais.
Aí fiz o poema (está transcrito abaixo). E, na semana seguinte, não é que encontraram o dito cujo? A mim, não parece haver nada de poético nun sujeito que provavelmente se refugiou no Uruguai por questões de dívidas e problemas familiares.

De qualquer forma, esse assunto (já esgotado, sei bem) gerou um poema e é o que realmente vale.




BELCHIOR EM SLOW MOTION


e ele, invisível, seguiu em frente, firme
com seu caderno de poemas pra cego
e suas melodias pra surdos mudos
carregadas de lirismo e beleza
ele, um velho poeta – o poeta entre muitos
presentes no imaginário deste ou daquele
eis minha melhor trilha sonora
toda manhã, o mesmo ponto de ônibus
a mesma rotina
na boca, o gosto do café
e a vontade de vencer na vida
é engraçado, parece que foi ontem – ele disse
ontem mesmo eu era outro
e tinha sonhos
e tinha planos
e sorria sem esforço
e era reconhecido nas ruas
parece que foi ontem
aquele amor do colégio
aquele que a gente não esquece
não porque fosse o primeiro
mas porque me despertara de um estado imberbe
isso não faz o menor sentido – disseram um dia
“obrigado, chamaremos você em breve!”
então a fila anda
ele só queria mais uma chance
que a poesia pudesse ser de novo ouvida
e sua música
ele só queria um amor – um amor que fosse
um fardo um pouco mais leve
alguém que não olhasse através dele
“tudo o que aprendemos é bagagem”
já disse alguém num boteco qualquer
entre umas e outras
pois é. com dinheiro tudo é mais fácil
eis que um poeta - mais um entre tantos
se foi, sorrateiro em manto de silêncio e só
e nós aqui, torcendo (sempre)
pelo próximo capítulo da novela das 8

vida mais besta essa...


wallace p./2009


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2 comentários:

  1. Pois é, de fantástico não teve nada, somente de estraga prazeres, deixasse o cara sumido e nós aqui com nossa poesia.
    A globo e essa mania de novela, blerg! pitú!
    Abraços

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  2. Concordo plenamente com o amigo Paulo: a Globo acabaou prestando um desserviço em mais um "ivade-vidas" pseudo-chamado de jornalismo... Mas o poema ficou bacana, com gosto latino-americano! Abração!

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