05 abril, 2010

Sobre o tempo, o amor e um cano fumegante



Tem uma companhia de teatro da qual gosto muito, pela excelência de seus espetáculos, pela pesquisa do tema memória e tempo: Sutil Companhia de Teatro, originária de Curitiba, atualmente residente no Rio de Janeiro. Temas esses também pertinentes à minha pesquisa nos últimos anos.
Revendo matérias sobre alguns dos seus espetáculos, me deparei com essa citação do penúltimo trabalho da Sutil (2008):

"Todas as palavras boas estão pálidas de exaustão. Flores, lua, olhos, lábios. Eu gostaria de escrever como se a literatura nunca tivesse existido. Eu não consigo; a ironia devora as palavras."
Victor Shklovsky, escritor russo (1893 - 1984).

Essa é a frase de abertura do espetáculo "Não sobre o Amor", peça de Câmara de Felipe Hirsch e Murilo Hauser sobre a obra se Victor Shklovsky, Elsa Triolet,Wladimir Maiakovski e Lilia Brik.
Um tipo de espetáculo em que o texto (a palavra) é muito mais importante do que do que o ator. As protagonistas ali são as cartas, e não os escritores.

Assim como o escritor russo, ando angustiado. E, pra quem vive de criação artística, a angústia é o melhor elemento de uma combustão complexa que está na origem da criação de qualquer obra de arte. Acabei de estrear um espetáculo que discorre sobre a memória de lugares e pessoas, brincadeiras de criança e o encantamento do ato de contar histórias.
Nesse nosso mundo contemporâneo, cada vez mais as pessoas querem ser encantadas, amadas, querem sentir novamente a emoção de estar vivos e olhar e abraçar o outro. Antes que seja tarde demais.

Tem uma lenda africana que diz que as pessoas só morrem de fato quando nos esquecemos delas.

Eu gostaria de escrever como se a literatura nunca tivesse existido. Eu gostaria que as pessoas e lugares pelos quais tenho apreço não se fossem nunca.

A memória é o paraíso e o gatilho da alma.

E você, ainda se lembra?


wallace p./abril de 2009
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2 comentários:

  1. Eu lembro...

    E ainda gosto das boas palavras em exaustão, acho que elas devem ter "o" algo mais que a gente não alcança. Mesmo ouvindo-as várias vezes, ou lendo-as em qualquer panfleto de motel barato. Flores, lua, olhos, lábios dizem muito para mim, e dizem mais ainda a minha memória.

    Sobre o espetáculo eu fiquei muito afim de ver. Nossa, será que um dia chegam aqui?

    Beijos
    Beijos

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  2. Corremos perigo nestes dias perdidos ao ocaso.
    Abraços mano velho!!!

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