17 março, 2011

ÍRIS




... ela olhou para o portão de madeira lascada, por uma fresta da janela. Ninguém na rua. Cedo ainda. Tornou a arrumar a cortina de linho puída, já amarelada. Pelo tempo. Suspirou longamente, um suspiro quase desbotado. A casa quieta, ainda guardava ecos de vozes alvoroçadas que há muito não se fazia sentir. Solidão. Ela, sozinha numa casa com reticências. Sobre a velha cômoda de mogno, um porta-retratos. Um só. Memória de um amor emotivo, distante. Na primeira gaveta, cartas amarrotadas pelo manuseio. Cartas não, breviários. O amor só é eterno nos poemas de amor. As palavras já não lhe eram solícitas. Cansaço. Sentou-se na velha cadeira de balanço, olhou mais uma vez em volta e fechou os olhos. Pra frente, pra trás, pra frente, pra trás... Metade dela era saudade e a outra nem nome tinha. Os olhos umedecem mais com o passar dos anos. E as lembranças, como o tambor de uma arma imaginária. Então ela finalmente tomou coragem e apertou o gatilho. Sorrindo, pela primeira vez em anos. Um sorriso sincero. Como há muito não se dava.


Wallace Puosso, do blog "Demora mas Chega"

2 comentários:

  1. Eu assisti o filme Iris, uma obra prima mesmo. Bom, tds os filmes da Kate Winslet sao muito bons. Já fiz uma homenagem pra vc no meu cantinho...seu texto já está lá. Bjs e fik c Deus.

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  2. Oie, td b? Sou eu d novo...mais um post na area...confira qdo puder! Bjs e fik c Deus.

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