10 junho, 2009


.
Era uma vez no futuro (ou o Ano do Cometa*)


Era uma vez o futuro
ele desejou que tudo fosse
um pouco diferente
com algumas coisas
mantidas como estão:
amigos por perto
esperança, sonhos, promessas
e um vinho sempre aberto
as crianças
montando quebra-cabeças
no chão da sala
tentando entender o mundo
pela ótica dos detalhes.
Era uma vez eles e ele
ouvindo Dylan, Clapton, Tom Waits
e vivendo a plenitude
do que chamamos prazer
no rosto, nas mãos as marcas
na alma uma quietude.
Já não se fazem amizades
como antigamente

diria o barbeiro, o dono da quitanda
e o motorista de táxi.
Pela janela do carro o tempo escorre
como gotas de uma chuva
que jamais pára
mas há beleza nisso
porque os poetas olham o mundo
com sensações de cor e alento.
Talvez fosse preciso um passo inicial
um primeiro momento
a sensação de serem eternos
eles e suas conversas regadas
a Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec
dizem que os vinhos são eternos
mas o que dura pra sempre
são as lembranças de hoje
e elas, estão guardadas
com os amigos, com quem amamos.
Era uma vez o futuro
num lugar e num tempo
não tão longe daqui.



wallace puosso, junho de 2009
para Oswaldo Jr.

* O título se refere a uma garrafa de vinho da safra de 1811 (o ano da passagem de um cometa conhecido como O Grande Cometa)
.
.
Esse poema faz parte da série denominada "conflitos contemporâneos", desenvolvida por mim, Oswaldo Jr. e Reginaldo Gomes, desde janeiro deste ano. O tema é sempre semanal e tem análise crítica dos envolvidos.
Ouça Tom Waits, leia Kerouac.
A vida pode ser de outra forma...
.
.

Um comentário:

  1. Que leve... adoro textos assim tras saudade, melancolia e vontade de escrever.. Perfeito


    Abraço

    ResponderExcluir