07 junho, 2009



virtual


Você me disse
que não sou mais o mesmo
e acho que não sou mesmo
nem me lembro mais
de cartas escritas à mão
telegramas de felicitação
e longas conversas
quando ainda se usava olhar nos olhos
mas isso faz muito tempo.

Você me disse
que ando distante, ausente
orgulhoso, insolente
que não tenho mais saudade
acho que você tem razão
como o tempo que passa
e não pede licença
as coisas desbotam, amarelam
mas não deixam de ser lembranças.


Você me disse
que não sou mais romântico
e há muito tempo
não deixo a porta aberta
e nem o coração
acho que você está certa
mas ainda ouço vinil
e prefiro conversas ao vivo
penso que um amor só é possível
se erros forem deixados para trás.


Você me disse
que destruí seus sonhos
com minha palavra
e meu olhar ausente
e nem me dei conta
acho que é isso mesmo
hoje a gente ama e nem sente
acho que isso aponta
um outro sentido mais figurado
para o que acabamos nos tornando:


como um bicho acuado
em momentos de dor e solidão
ele grita, se debate e ataca
mas com coração ainda dócil
espera paciente um afago
um momento adormecido
um olhar mais terno
um abraço há muito esquecido.


wallace puosso, maio de 2009
Esse poema faz parte da série denominada "conflitos contemporâneos", desenvolvida por mim, Oswaldo Jr. e Reginaldo Gomes, desde janeiro deste ano. O tema é sempre semanal e tem análise crítica dos envolvidos.
Se puder, leia Shakespeare. Tão atual como nunca.
.

3 comentários:

  1. Gostei..
    e dá samaba..
    Senti um ritmo aí.
    Já pensou nesse lado?

    bjs


    atualizado com história nova lá!

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  2. Só as pessoas que conhecem varias razões da vida tem a capacidade de expressar palavras que transmitem tanto sentimento sem fugir do real.
    Lindo...!

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  3. Lindo, lindo, lindo...........
    tenha um ótimo feriado...

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